Nunca usei relógio. Primeiro porque sou hiperativa, não aguento ter uma coisa amarrada no meu pulso. Se tiver vou mexer nela o tempo todo. Segundo porque é inútil: estou sempre atrasada mesmo (pontualmente 20 min atrasada) e sempre tem alguém do lado que tem um relógio - emboras as vezes as pessoas pensem que eu vou assaltá-las quando pergunto a hora. Tenho alguns mecanismos de medir tempo, como a quantidade de músicas que já ouvi ou o que tá passando na globo, ou a hora que está no bina, esse bendito aparelho.
Com tamanha imprecisão nessa vida diária nunca soube olhar as horas em relógios de ponteiro. Até conheço a teoria e tal, mas é como matemática de contar nos dedos: ali é o 30, aqui é 40, o ponteiro da hora tá mais pra duas que pra três... Mas isso me toma 30 segundos preciosos que eu poderia usar assoviando o refrão minha música favorita da semana. Eis o cenário.
Aí um belo dia eu resolvo pegar ônibus. Munida de boa vontade e nenhum contador de tempo me encaminho ao terminal do cabral, que fica há 3 músicas a pé da minha casa (sempre lembrando que não ouço legião nem pink floyd). Entro e bem informada e alfabetizada procuro a placa do ligeirinho inter 2. Lá está: Ligeirinho inter 2, sentido horário. Epa! Horário? A meia-noite está para o centro ou para o bairro?
Atravesso o tubo por baixo da linha do ônibus procurando uma placa mais informativa. Adivinha: inter 2, sentido anti-horário. Uso as habilidades desenvolvidas com o pedir do tempo ao longo da vida e indago uma senhora de sapatilhas moleca, uma sacola de pano grande:
- Esse ônibus vai pra qual lado?
- Pro lado do bairro, ela diz indiferente.
Ora, o nome do ônibus é INTERBAIRROS! É óbvio que ele vai para o BAIRRO!
Desisto. Pego o expresso até o centro e faço o resto do caminho de táxi, com saudades de quando eu era analfabeta na ucrânia e fingia que era surda-muda pra conseguir ajuda pra chegar em casa.