domingo, 24 de abril de 2011

Dos vocativos

Você está ali de bobeira na rua e alguém te chama. Nas primeiras lembranças as pessoas se referem a mim com: sua mãe tá aonde? Aí vc cresce um pouco e não precisam mais te chamar, criança é bicho curioso e atento. Outro tanto de crescimento, você vira moça. Ô moça, por favor, onde fica essa rua aqui?

Moça, psit, psiu, ei... todas as coisas eu já estava acostumada. Até que um dia um malabarista de sinaleiro me chamou de tia. Tia, tem um trocado? E obviamente não ganhou nada além da minha ira.
Ontem, fatidicamente, o cidadão desconhecido passou a se referir a mim como senhora. "A senhora sabe o caminho do asilo?"


terça-feira, 19 de abril de 2011

14h30

Esse é o horário que eu saio do trabalho. Era pra ser 14h, mas eu não consigo levantar antes de 7h07, então fica difícil sair do Parolin e chegar no Pilarzinho às 8h, levando em consideração um café da manhã decente.
Eu não vou começar a contar as vantagens de sair do trabalho esse horário, como marcar unha às 16h20, ir na acupuntura às 15h, não pegar a fila das 19h no mercado ou tirar uma soneca vendo sessão da tarde.
A grande merda dessa situação é constatar que dirigir às 14h40 é mil(MIL!)vezes pior do que dirigir às 19h. A demora é a mesma, mas ao invés de lidar com filas de carros congestionados, você tem que lidar com trocentos velhinhos e peruas no volante.

Defina desespero

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O fonema Hã

Com 11 anos morando em Curitiba eu quase transfoRmei o R do interioR do Paraná no r curitibano. Apenas 5 meses longe da cidade sorriso e o meu R interiorano voltou com foRça. Mas não faz diferença. Meu sotaque sulista aqui no nordeste vai seR motivo de espanto (e riso) de qualqueR maneira.

Com a Globo colocando seu primeiro time pra uma novela nordestina, lembro do conselho que um sábio amigo me deu logo que cheguei aqui:
"Não tente foRçaR o sotaque noRdestino. Vai ficaR ridículo igual atriz global".
Pra você, amigo
do sul, entender o choque, tem o Murilo Rosa fazendo um gaúcho dos pampas na novela das 6. Ele solta um "feche a poRRRta" no melhor estilo carioca e emenda um tchê. Altamente risível.

Pra mim o segredo do sotaque daqui é o fonema HÃ. É um som coringa, se encaixa em muitas palavras, mas é fácil perceber no V. Ninguém aqui fala "vamos". É "hãmo", em vez de "eu tava" é "eu taha". Ele entra também na emenda do s de um plural com a consoante da palavra seguinte: muitahpalavrahnémehmo?

BONUS TRACK:
Duas das minhas preferidas:
Oxxx, oxente! significa "como assim?"
Bichinho = coitado



Aprenda com a Suzana:
Bichinho du povo du su qui qué falá quinem nói!

Viver no estrangeiro

Tenho a nítida impressão que a Paraíba é outro país, comparado ao Paraná.Outra comida, outro clima, outra geografia, outra política e o mais estranho: outra língua. Quando fui analfabeta na Ucrânia reparei que só seria mesmo fluente quando conseguisse entender e contar piadas. João Pessoa vai pelo mesmo caminho.

No começo eu simplesmente não entendia as palavras. A pessoa começava a falar rápido e eu só chacoalhava a cabeça, como faz a minha vó quase surda. Agora já entendo as palavras, o fonema (hã) se fundiu ao meu vocabulário, mas não entendo a lógica do pensamento. Chega a dar um desespero quando estou no carro e o motorista pede informações. Ele troca 12 palavras levemente conexas com um passante e pronto! Sabe pra onde estamos indo. E não é ponto referência.
Por exemplo, essa semana mesmo estávamos em uma rua íngreme. O sujeito da informação disse: você desce, na casa branca de esquina vai a direita, depois esquerda e direita de novo.
Andamos 2 ruas, viramos à direta - a casa branca eu nunca vi - andamos mais 1 km passando por umas 15 ruas, e então subitamente à esquerda e lá estava o destino.

Quando estou sozinha e preciso pedir informação já adianto: olha, eu não sou daqui...
Aí a pessoa diz: então vai em frente e pergunta mais lá perto...